mais uma criança foi morta por "bala perdida" (dessas balas perdidas que geralmente acabam encontrando como alvos os corpos de negros e pobres) no Rio de Janeiro. somente neste ano, nos meses de governo Witzel, 1.249 pessoas morreram em favelas, 44 policiais morreram e 16 crianças foram baleadas - 5 dessas foram mortas. não é simplesmente, como querem fazer parecer alguns, efeito colateral do combate ao crime, é uma carnificina, uma política de segurança pública (de extermínio, na verdade) que autoriza a polícia a atirar "na cabecinha", como disse o próprio governador do Rio de Janeiro, algo que me faz lembrar de Bolsonaro dizendo anos atrás, em uma entrevista na televisão, que era necessário "fazer uma guerra civil" no país e "matar uns 30 mil", mesmo que morressem alguns inocentes, "tudo bem", segundo ele.
pouco tempo atrás, Bolsonaro elogiou Stroessner, o PEDÓFILO e torturador que foi presidente do Paraguai. Crivella, o prefeito do Rio de Janeiro, recentemente fez alarde querendo censurar um livro que seria vendido na Bienal do Rio pelo fato de haver nele a imagem de um beijo entre dois personagens masculinos. A ministra Damares já disse (e esse é apenas um dos tantos absurdos saídos de sua mente lunática) que na Holanda os pais masturbam seus filhos bebês para que eles se tornem adultos sexualmente saudáveis. são essas as pessoas, e tantas e tantas outras (governantes, pastores, etc.), que, obcecadas pela sexualidade alheia, constantemente pregam "a moral dos bons costumes", como se estivessem muito preocupadas com a educação das crianças, mas que pouco ou nada dizem quando algumas dessas crianças são assassinadas.
em seu discurso mentiroso na ONU, Bolsonaro disse que "a 'ideologia' invadiu nossos lares e tenta destruir a inocência de nossas crianças". um discurso ideológico (de uma voz nada conciliadora) contra "a ideologia", ou seja, hipócrita, moralista. Bolsonaro, Damares, Crivella, e esses outros pastores que apoiam o atual governo, fizeram alguma crítica sobre o fato, por exemplo, de o apresentador, dono da emissora de televisão SBT, Silvio Santos (aliado de Bolsonaro), exibir em seu programa, no domingo em rede nacional, crianças vestidas com maiô, como se fossem adultas, para que escolhessem aquela que tivesse, segundo o que o próprio Silvio Santos disse, "as pernas mais bonitas, o corpo"? obviamente: não.
em seu discurso mentiroso na ONU, Bolsonaro disse, também, que "o ambientalismo radical" e o "indigenismo ultrapassado" representam "o atraso" e que seu governo tem "tolerância zero para criminalidade, incluindo crimes ambientais". ele desmontou toda a estrutura de fiscalização dos órgãos governamentais de defesa do meio ambiente, mas na ONU, onde estaria falando para o mundo inteiro, ele diz que tem "tolerância zero com crimes ambientais", ou seja, mente descaradamente. e quem é Bolsonaro, um homem que sempre destilou diversos preconceitos, um dos políticos mais retrógrados do mundo, que discursa "como se estivesse ainda na Guerra Fria" (como bem disse um professor da UERJ), para falar sobre atraso?
alguns políticos, pastores e outras pessoas que cometem absurdos (o deputado e pastor Marco Feliciano, aquele que já foi gravado pedindo o cartão de crédito de uma pessoa na igreja, recentemente teve seu tratamento dentário, no valor de 157 MIL REAIS, pago pela Câmara dos Deputados, ou seja, pelo povo, Bolsonaro dizendo que usava o dinheiro que recebia do auxílio-moradia para "comer gente", Damares e Witzel dizendo que possuem diplomas que, na verdade, eles não têm, etc., etc., etc.) são as pessoas que, cheias de imoralidades em suas vidas mais sujas que pau de galinheiro e ao mesmo tempo com discurso moralista e hipócrita, querem censurar a arte no país, exposições, filmes, livros, etc.
governos autoritários não querem cidadãos que façam questionamentos através da arte, do cinema, do teatro, da música, da literatura, da filosofia, da poesia, querem cidadãos que apenas digam "amém", que não se oponham sobre nada. Fernanda Montenegro, por exemplo, uma das grandes atrizes do Brasil e do mundo, recentemente foi alvo do ódio cego de ignorantes pelo fato de se posicionar politicamente. há uma frase que é atribuída ao escritor Caio Fernando Abreu, que eu não sei se realmente é dele, mas que eu gosto muito, que diz o seguinte: "é melhor ser rejeitado por ser sincero do que ser aceito sendo hipócrita". há uma outra frase, que eu não sei a autoria, que diz o seguinte: "se 'todo mundo' gosta de você é porque você não está se posicionando o suficiente".
há pessoas (moralistas e hipócritas) que às vezes se dizem "chocadas" com algumas representações artísticas, com algumas imagens em livros e em espaços na internet ou com o uso de algumas palavras tidas como "palavrões" ("palavrão mesmo é condomínio, pedágio, fome", como certa vez disse Dercy Gonçalves), mas que não se dizem ou não se mostram chocadas quando, por exemplo, um presidente de um país exalta a tortura, torturadores, pedófilos, assassinos, quando políticos grosseiros e extremamente ignorantes incitam a intolerância e a violência entre as pessoas.
há pessoas (moralistas e hipócritas) que pregam a "paz" (e agindo não muito diferente desses com armas nas mãos e que erram o alvo matando pessoas inocentes), mas estão cheias de ira buscando alvos errados para serem julgados por elas - são pessoas que se sentam diante de um computador, ou com um telefone nas mãos, e armadas com suas línguas e dedos miram seus julgamentos contra os que ousam criticar as verdadeiras barbáries mesmo sabendo que por isso serão alvos dos que preferem compactuar com os horrores do mundo.
há pessoas (moralistas e hipócritas), geralmente covardes que nem sequer mostram a cara (esses tantos que geralmente não dão a cara a tapas ao dizerem o que pensam, protegidos atrás de imagens que não são de si mesmos), que em vez de usarem suas palavras contra os canalhas e perigosos que estão no poder (des)governando cidades, estados e países e desgraçando a vida de tantas pessoas e bichos, preferem usar suas palavras contra os que usam suas palavras contra a ignorância nociva, os preconceitos, o retrocesso, a estupidez humana...
há pessoas (moralistas e hipócritas) que provavelmente se sentem maiores quando tentam, no desejo de buscar atenção com seus julgamentos (muitas vezes evidentes demonstrações de inveja), diminuir outras pessoas ("quando Pedro me fala de Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo", como escreveu Freud).
há pessoas (moralistas e hipócritas), geralmente caretas de ideias antiquadas, ultrapassadas, que querem da arte um (falso) puritanismo, que querem dos livros somente palavras assépticas, que rejeitam o fato de que a arte, a literatura e a poesia podem ser provocativas e servem, também, para que possamos expandir a mente e, assim, fazer caber nela mais da realidade do mundo. mas há quem prefira, antes de tudo cerceando a si mesmo, ver em uma rosa apenas as pétalas e negar a existência dos acúleos em seu caule.