29 de novembro de 2019

aos garis e margaridas

se os poetas
parassem de escrever,
nada de mais aconteceria
(poesia: com a qual
ou sem a qual,
o mundo
não continuaria
tal e qual?),
telas e papéis ainda
seriam fabricados
para morrerem
em branco
ou iluminados
enquanto o sol
para todos nasceria.

se os músicos
parassem de compor,
nada de mais aconteceria
(ainda que a música
possa ser para a alma
o que o alimento
é para o corpo),
as rádios continuariam
suas programações
com músicas
das décadas passadas
e os ouvidos passariam
a ouvir mais (quem sabe?)
uma voz que só pode
ser ouvida através do silêncio.

se os pintores
parassem de pintar,
nada de mais aconteceria
(nas cores que a gente pinta,
ainda a vida),
o céu continuaria
às vezes indeciso
entre o laranja e o violeta
às seis horas da tarde
e ainda haveria terra
em alguns tons de marrom
como os da mistura de tintas
das três cores primárias.

mas se os garis
e as margaridas
(imprescindíveis
a escapar das retinas)
parassem de varrer as ruas,
estaríamos todos sujos.

3 de novembro de 2019

cá da Terra



se apenas na parte
visível do Universo
existem mais
de cem bilhões
de galáxias
e em cada
galáxia
uma
média
de cem
bilhões
de estrelas,
estupidez
é ater-se
à língua
comprida
e bifurcada
de quem usa
telas e janelas
somente para
observar
a vida
alheia.



(imagem: foto de Carlos Fairnbairn)