benditos os que fazem
o almoço de domingo
enquanto cantam, dançam
e riem de si mesmos
ouvindo qualquer estação
mais popular de rádio,
os que nem estão pensando
em dizer nada de mais,
nada de muito eloquente,
nada de grandiloquente,
nada de impressionante,
apenas sentindo o cheiro
da cebola fritando no óleo
enquanto o cachorro e o gato
correm da sala para a rua.
benditos os que
nem se pensam poetas
- ou não se sabem -,
mas que veem poesia
onde quase ninguém
mais consegue,
olham além da janela
enquanto cozinham
e percebem que o sol
não é apenas
uma bola amarela no céu,
notam sempre todos
os desenhos feitos
por todas as nuvens
e não perdem a capacidade
de serem surpreendidos por elas
porque não estão olhando somente
para dentro de si mesmos
- transparentes para que não
possam ser manchados, vivem.
(imagem: JMW Turner)
(imagem: JMW Turner)
A simplicidade sempre nos faz bem e pelo menos pra mim, vale muito mais do que certos brilhos, vaidades, narizes empinados e riquififis... Adorei! abraços, chica
ResponderExcluirPra mim também, Chica! Abraços.
ExcluirOlá, Ulisses!
ResponderExcluirColoquei o "dentre tantos" na blog rol do meu outro blog, o Letras Que se Movem. Assim sendo, logo vi essa postagem recente.
Você escreve sobre coisas simples, as mais requintadas, Gosto mesmo desse estilo, me parece até mais difícil de se escrever.
Conheço muitas pessoas, bairros, cidades, que nunca olham pra fora de si mesmos; é triste saber que tem pessoas assim, que desconhecem os desenhos feitos pelas nuvens...
Um abraço e ótima semana.
Obrigado, Sandra, e eu concordo contigo, acho que todos conhecemos um pouco - ou um muito - disso, abraço pra ti também.
ExcluirVer para lá do óbvio é uma capacidade que nem todos têm. E isso, de facto, é poesia *-*
ResponderExcluirr: Confesso que das salgadas não consigo gostar, mas pipocas dentro e fora do cinema é muito sim ahahah
Oh, que maravilha! O António Zambujo é um artista fantástico
De fato, nem todos têm essa capacidade. E gosto do António quase tanto quanto de pipocas (doces e salgadas)! Hehe. :)
ExcluirA eterna ambivalência humana.
ResponderExcluirSerão mais felizes os momentos simples em que nada mais inspiramos senão os instantes que ali vivemos?! Às vezes será assim, sim.
Mas somos (sou) epistemofilica por natureza... :)
"Felicidade se acha é em horinhas de descuido", como escreveu o Guimarães Rosa.
Excluir“Aspiramos”.... eheheh
ExcluirPasso a vida a tentar traduzir o complexo para simples... é a história da minha vida! 😉
ResponderExcluirBenditos os que "não estão olhando somente
para dentro de si mesmos..."
e
os que "veem poesia/onde quase ninguém
mais consegue"...
gostei muito do poema!
bem vindo. sempre
abraço
Obrigado, Manuel, seja bem-vindo sempre também, outro abraço.
ExcluirAprecio muito a forma como dizes a vida que sentes.
ResponderExcluirBeijo.
Obrigado, Teresa, e um beijo pra ti também.
ExcluirOlá, Ulisses!
ResponderExcluirA 1ª estrofe do teu poema é, aparentemente, simples, mas "isto" de ao domingo sentir o cheiro da cebola fritando em óleo, tem muito de poético, de "bendito", embora não pareça.
A 2ª estrofe é mais social e até crítica. Todos aqueles, que sendo poetas, o não sentem, nem o veem, são os verdadeiros, então. Uma janela é um mundo, que se estende ao nossos olhos, e aí ficamos observando, muitas vezes, nosso interior sem dar por isso. Talvez procuremos o sol, o nosso sol.
A imagem, k encima o teu poema é uma aguarela? Parece. Tem uma beleza subtil, que não sei decifrar, mas descansa-me o olhar.
Qto à tua "pergunta" no comentário, digo-te que o k leste é misto de tudo isso: empirismo e afetuosidade.
Gostaste do vídeo ou nem o olhaste e escutaste? É do teu país, mas eles, protagonistas não estavam fritando cebola em óleo - risos.
Beijos e boa semana.
Não tinha visto o vídeo, vi agora, faz muito tempo que passou na televisão, eu te confesso que não gosto de novelas, mas lembro de ter visto algumas partes dessa, e de outras mais antigas, a dança é bonita. Sobre a imagem, é uma pintura (óleo sobre tela) do pintor inglês JMW Turner, gosto muito, quase tanto quanto de cebola fritando no óleo! rs. Beijos e boa semana pra ti também, Céu.
ExcluirValeu, Arthur!
ResponderExcluirQue bom saber, Francisco, abraço e boa semana pra ti também.
ResponderExcluirTodos escribimos nuestros poemas desde la versión que vivimos cada día.A veces es difícil separarse de uno mismo.Es más..creo que no debemos hacerlo.A pesar de todo somos humanos y pequeños como hormiguitas
ResponderExcluirGracias por tus comentarios.
Perdona si a veces no entiendo las entradas,pero es el traductor que no lo hace correctamente
Gó
Sí, depende de cada instante. Somos pequeños como hormiguitas, pero ellas ya nacieron listas, no necesitan filosofía, por ejemplo (en realidad, ellas pueden enseñarnos muchas cosas), y nosotros tenemos que aprender todos los días. Gracias, Gó, besos.
ExcluirEu achei tão lindo! Posso desenhar? *o *
ResponderExcluirValeu, Bruna, e claro que pode, aliás, fiquei curioso pra ver, teus desenhos são ótimos! :)
ExcluirE a felicidade... encontra-se e esconde-se, por entre as coisas mais simples da vida!...
ResponderExcluirBelíssima inspiração! Gostei imenso!
Abraço
Ana
Obrigado, Ana, bom saber, outro abraço.
Excluir"... transparentes para que não tenham com o que lhes manchem..." É você aí também! Às vezes as pessoas dizem as coisas com tanta pompa, ou apenas tentando escrever algo que impressione, mas que não dialoga de forma alguma com quem está lendo, e no caso desse seu poema é exatamente o contrário, é simples, direto e bonito, enfatizando o valor do que de fato devemos valorizar na vida e ao mesmo tempo buscando ver além do óbvio, como comentou a Andreia. Gostei bastante!
ResponderExcluirQue coisa boa ler isso, Fábio, muito obrigado, mais uma vez! :)
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