29 de março de 2020

poesia em tempos de pandemia


***



poemas de Murilo Mendes (1901 - 1975)

26 de março de 2020

Sairemos da caverna num dia de sol



por Ayrton Centeno (do Brasil de Fato) 


Uma das hipóteses para a gênese do coronavírus é que ele tenha se originado no fundo de uma caverna na China. Ali, em dado instante, talvez propiciado pela presença devastadora do homem no seu ataque à natureza, o inimigo invisível que ameaça o planeta saltou do morcego para a humanidade. 

É uma cena repetida ao longo da História, sempre com a criatura humana atraída pelo desconhecido. Foi assim com o HIV, originalmente presente em chimpanzés; com o sarampo, possível legado da era inicial da pecuária bovina; e com o ebola, novamente oriundo dos morcegos. 

Nas mais de mil espécies de morcegos, o coronavírus sobrevive sem destruir seu hospedeiro, dotado de vigoroso sistema imunológico. Porém, ao deixar a caverna e trocar de anfitrião, diante de uma barreira imunológica bem mais frágil, causa estragos enormes e, eventualmente, fatais. É o que está acontecendo no Brasil em 2020, com consequências ainda em suspenso, mas com expectativas péssimas. 

Em algum ponto do passado, também nos sentimos atraídos pela caverna. Certo dia, quisemos explorá-la. É fato que houve muitas advertências. Vozes nos avisaram de que algo nos aguardava nas trevas. Não acreditamos. Os donos da verdade instalados nos seus pedestais também nada nos informaram. Limitaram-se a observar, alguns poucos, que talvez a caverna não fosse tão acolhedora. Mas emendaram que permanecer na claridade, do lado de fora da cova, também seria algo arriscado demais. Então, entramos. 

Mal demos o primeiro passo e um segundo vírus já navegava em nosso sangue. Ao contrário do corona, que prefere o aparelho respiratório, o intruso dentro de nós ataca nossa empatia, o dom da compaixão, de se enxergar o próximo. Exacerba sentimentos como o egoísmo, a cobiça, o ódio. Estimula e justifica a prática da fraude e da violência contra os mais fracos. Repele a ciência, louva a superstição e exalta a morte. Também agride de forma brutal a capacidade cognitiva do infectado, que nega a realidade, reagindo com fúria frente a tudo que ouse questionar suas convicções. 

Em 2018, ano do grande surto, a maior parte da população sofreu esse contágio. Tornou-se adicta da mentira que consumiu, celebrou e disseminou. A ação virótica exasperou fantasias, sonhos de exaltação mitológica. 

Dois anos depois, quando, aos trancos e barrancos, a nação enfrenta a covid-19, o vírus daquela outra caverna sofreu um choque de realidade. Baixou sua crista, achatou sua curva que se inclina para a parte baixa do gráfico. Mas continua ativo. 

Nossa sina é combater e derrotar ambos. Se a localização da suposta caverna chinesa é imprecisa, sabemos perfeitamente onde se situa a outra. Reside em algum lugar dentro de nós, naquele porão sinistro e íntimo onde ocultávamos nosso horror particular e havíamos acorrentados nossos monstros, agora libertados. 

Mas os dois vírus possuem o mesmo ponto fraco. Exposto ao sol, o coronavírus resiste algum tempo e morre. Aliado da escuridão, o outro vírus também sucumbe. Não suporta a claridade que permite melhor ver, distinguir e julgar as coisas. Primeiro teremos que vencer o corona. Depois, virá a vez do segundo vírus. Será uma tarefa longa, em que nos caberá produzir aquela manhã esperada, plena de sol. É ela que trará seu brilho intenso para fulminar e devolver o inimigo à caverna de onde nunca deveria ter saído. 

21 de março de 2020

hoje



Enquanto faço o verso,
tu decerto vives.
Trabalhas tua riqueza,
e eu trabalho o sangue.
Dirás que sangue é o não teres teu ouro
E o poeta te diz: compra o teu tempo
Contempla o teu viver que corre, escuta
O teu ouro de dentro. É outro o amarelo que te falo.
Enquanto faço o verso, tu que não me lês
Sorris, se do meu verso ardente
alguém te fala.
O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas:
"Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas".
Irmão do meu momento: quando eu morrer
Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo:
MORRE O AMOR DE UM POETA.
E isso é tanto, que o teu ouro não compra,
E tão raro, que o mínimo pedaço,
de tão vasto
Não cabe no meu canto.


Hilda Hilst
"Poemas aos homens do nosso tempo",
in Júbilo, memória, noviciado da paixão.
2. ed. São Paulo, Globo, 2001. 

16 de março de 2020

Irresponsável, Bolsonaro ignora coronavírus e brinca com saúde da população

(Movimentação durante manifestação pró-Bolsonaro
na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, dia 15
Imagem: Saulo Angelo/ Futura Press/ Estadão Conteúdo)


por Leonardo Sakamoto (do UOL) 


Demonstrando que sua agenda política pessoal é maior do que sua preocupação com a saúde da população, o presidente Jair Bolsonaro encontrou fãs, trocou apertos de mão, segurou celulares para selfies e elogiou que seus seguidores tenham ido aos atos contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, realizados neste domingo (15). Profissionais de saúde têm, desesperadamente, pedido às pessoas que evitem contato social a fim de retardar a pandemia de coronavírus.

Passando por cima das recomendações do próprio Ministério da Saúde, que pede a todos que tenham ido ao exterior que fiquem sete dias em suas residências, ele deixou o isolamento e foi confraternizar com seus eleitores.

O presidente da República torna-se, dessa forma, inimigo do próprio sistema de saúde do país, que tenta explicar às pessoas que elas devem evitar aglomerações a fim de reduzir a velocidade da infecção.

Tenta-se impedir um "tsunami" de gente procurando postos e unidades básicas de saúde e hospitais, tornando impossível atender aos afetados pelo Covid-19 e, ao mesmo tempo, cuidar de pacientes de outras doenças e emergências. Se os infectados vierem em "prestações", o sistema ficará menos sobrecarregado e não será necessário escolher quem será atendido ou não. Ou seja, no limite, quem vive e quem morre.

Bolsonaro prova mais uma vez que pensa somente em si, em sua família e no naco de seus fãs que pertencem à classe mais abastada. Pois se forem infectados, terão o melhor tratamento de saúde do país à sua disposição. Coisa que não vai se acontecer com quem depende do SUS, com leitos e respiradores em número insuficiente para fazer frente à crise.

O coronavírus não tem preferência por pobres ou ricos, mas o Brasil, sim, ostentando um déficit de estrutura de atendimento no sistema público, que é responsabilidade de todos os governos até agora - inclusive o dele.

"As consequências do ato de Bolsonaro hoje vão além do ataque à democracia. Trata-se de uma irresponsabilidade sem tamanho, uma ameaça à vida das pessoas, expostas a um vírus que tem matado milhares ao redor do mundo", afirmou o líder do PSB na Câmara dos Deputados, Alessandro Molon (RJ) em nota à imprensa. "É isso que acontece quando se governa pensando em concentrar e manter seu próprio poder".

Ao sair à rua, o presidente também parece rir da cara de seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que tem sido diligente e responsável em meio ao caos. Sua pasta avisou que se não forem tomadas medidas para restringir o contato social, casos vão dobrar a cada três dias.

Ao menos, seis pessoas que estavam em um evento que reuniu as comitivas de Donald Trump e de Jair Bolsonaro, na Flórida, já deram positivo para coronavírus. O primeiro teste do mandatário brasileiro, segundo ele mesmo, deu negativo - mesmo resultado de seu colega norte-americano. Mas a infecção pode produzir falsos negativos, ainda mais na fase em que está assintomática. Por isso, ele foi recomendado a monitorar a saúde e estava em isolamento.

O presidente, que chegou a conclamar as pessoas a irem às ruas para o 15 de março, acabou fazendo um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV recomendando que os organizadores adiassem as manifestações com a ampliação dos casos de coronavírus. Usou até máscara cirúrgica em uma live no Facebook, enquanto não saía o resultado do seu exame, e também desincentivou a ida ao evento. Agora, vai à rua abraçar pessoas, dar apoio a aglomerações e mau exemplo.

Toda manifestação democrática que não peça o fechamento de instituições ou a prisão de deputados, senadores e ministros do STF tem o direito de existir. O problema é que os atos foram convocados com base na premissa no, agora icônico, "foda-se" que o general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, sugeriu que o presidente mandasse ao Congresso.

Em um momento em que a sociedade faz um esforço para fechar as portas das escolas, universidades, shows, eventos esportivos, cultos religiosos, e se recolher, o presidente vem à rua para apoiar que seus fãs se juntem a fim de gritar "mito". Pode ter ajudado a rifar, dessa forma, a qualidade de vida de muitos que vão passar a achar que estamos vivendo a normalidade sanitária no Brasil e repetir seu exemplo.

O governante racional assume uma posição que nem é de histeria, nem de descaso neste momento. Bolsonaro foi além,  ele objetivamente está colocando a sociedade em risco. Merece o nosso reconhecimento. Após ser o primeiro presidente no mundo a chamar uma pandemia mortal de "fantasia", agora se torna o primeiro ao agir contra o seu combate.

17 de fevereiro de 2020

redes sociais, selfies e os tempos de kardashianização

(Mona Lisa Kardashian)


embora não haja consenso sobre o impacto das redes sociais em nossas vidas e comportamentos, alguns estudos realizados por diferentes universidades do mundo concluíram, ao longo dos últimos anos, que se manter distante das redes sociais reduz sentimentos negativos e melhora nosso bem-estar. muito já foi escrito sobre a inveja, por exemplo, que uns acabam sentindo de outros, mas até hoje nunca vi alguma pesquisa ou usuário de alguma das redes sociais comentar sobre a inveja que muitas pessoas acabam sentindo até de si mesmas, inclusive, e porque provavelmente muitas das pessoas sentem, mas nem se dão conta. 

tive apenas duas breves experiências com as redes sociais: a primeira foi com o extinto Orkut, muitos anos atrás, durante alguns poucos meses, e a segunda foi, algum tempo depois (por teimosia), com o Facebook, onde mantive um perfil por apenas poucos meses também, criado em 2010, ou seja, dez anos atrás. de lá para cá, em nenhum momento pensei em voltar a fazer parte de alguma rede social, manter distância desse universo foi uma decisão definitiva.

reconheço as vantagens que as redes sociais podem nos proporcionar: reencontrar pessoas do passado que, de algum modo, foram especiais nas nossas vidas e, por que não?, podem se tornar especiais de um novo modo no presente, conhecer novas pessoas, ainda que, na maioria dos casos, isso aconteça muito superficialmente, compartilhar e absorver ideias (as que possam acrescentar algo no mínimo interessante em nossas vidas), divulgar o próprio trabalho, etc. são muitas as vantagens, mas, na minha percepção, são bem maiores as desvantagens, porque o que há de negativo se torna, cedo ou tarde, mais gritante. 

não podemos generalizar, afinal as generalizações são sempre ignorantes e é certo que há pessoas que utilizam as redes sociais de forma benéfica ou sensata, porque essas não estão lá somente para nutrir a flor do próprio umbigo, mas a maioria muitas vezes se mostra, ou se revela, na verdade, da pior maneira possível e, o que é ainda pior, parece não perceber.

porém, não são apenas os outros que, através de suas vidas editadas em fotografias de si mesmos, agem como se tivessem uma vida aparentemente perfeita. nós mesmos, também, muitas vezes acabamos agindo dessa forma, como se entrássemos em um redemoinho de autossabotagem que não é aquele onde apenas deixamos de fazer coisas produtivas por nós mesmos, mas onde, na verdade, passamos a fazer tudo em troca da aprovação alheia, como se a nossa vida se tornasse uma novela para uma plateia virtual onde os espectadores diariamente nos aplaudem e nos "curtem" apenas porque esperam, na maioria das vezes, ser aplaudidos e curtidos em suas novelas também - e ingênuas são as pessoas que pensam que esses outros se importam realmente com a vida delas.

é fato que, de um modo ou de outro, representamos certos tipos de papéis sociais, nas redes e na vida fora delas, mas também é fato que através das redes sociais é bem mais simples para qualquer pessoa aparentar ser o que quiser e, dessa forma, o risco de acabar sentindo inveja até de si mesma, ainda que sem se dar conta, é grande:

olhamos para as nossas próprias fotografias postadas nas redes sociais e pensamos: eu gostaria de ser exatamente como eu estou fazendo de conta que sou ali para todas as outras pessoas verem, eu gostaria de me olhar no espelho, quando estou longe das plateias virtuais, e enxergar exatamente a mesma imagem que compartilho nas fotografias com filtro, photoshop ou escondendo os detalhes do meu rosto e corpo que eu julgo serem defeitos, eu gostaria de ser sempre tão feliz quanto as pessoas devem achar que sou através das imagens que compartilho, do meu rosto sorridente nos lugares por onde passo, etc.

hoje em dia, se formos aos lugares mais bonitos do mundo (ou em qualquer lugar), provavelmente veremos pessoas fazendo registros fotográficos... de si mesmas. não basta mais vivermos simplesmente, do modo que quisermos, seja lá como for, não basta mais existirmos, agora é preciso provar diariamente que existimos, as fotografias de nós mesmos dão para os outros a autenticação, ainda que ilusória, de que somos sempre produtivos, sempre felizes (a tal "positividade tóxica"), saudáveis - e ao mesmo tempo sem enxergar que desenvolver um vício em se exibir diariamente em uma rede social, tornando-se escravo(a) da aprovação alheia, pode ser algo tão nocivo para a própria mente quanto usar constantemente qualquer tipo de droga lícita ou ilícita.

não vejo, sinceramente, muita diferença entre uma pessoa que constantemente se embriaga com alguma bebiba alcoólica até o ponto de começar a ser estúpida sem se dar conta, por exemplo, e uma pessoa que usa uma rede social demonstrando estar viciada em mendigar atenção e massagem no ego diariamente. na verdade, essa pessoa, em um caso assim, não está simplesmente usando uma rede social, está também sendo usada por ela.

em um mundo de pessoas com os olhares atualmente tão direcionados para si mesmas, difícil é ver quem consiga registrar, apenas com as retinas ou mesmo com uma câmera fotográfica, somente o que está ao redor, o que existe para além dos nossos umbigos. mas a carência e a necessidade de autoafirmação falam mais alto, por isso o número de "selfies" compartilhadas nas redes sociais costuma ser bem maior do que o número de outros tipos de fotografias. 


algum tempo atrás, Kim Kardashian compartilhou em seu perfil no Instagram uma "selfie" em que ela estava nua (com tarjas nas "partes íntimas") na frente de um espelho (apenas mais uma de suas milhares de "selfies", exatamente como fazem tantas e tantas outras pessoas que diariamente compartilham "selfies" pensando, provavelmente, que seus seguidores vão achar que há muita diferença entre elas). a atriz Bette Midler, que é conhecida pelo seu bom humor, comentou em seu perfil no Twitter:

"Se Kim Kardashian quer que vejamos uma parte dela que nunca vimos, ela vai ter que engolir a câmera."

cada um que se exponha da maneira que quiser, obviamente (cada um oferece, afinal, o que tem para oferecer), mesmo que seja uma exposição em que já não há mais nenhuma novidade para ninguém, mas, como diz o provérbio, quem está na chuva é para se molhar, ou seja, é preciso arcar com as consequências de uma exposição desenfreada, quem não quer ler ou ouvir nenhum tipo de crítica negativa ou ironia, que vá plantar alface na solidão de uma horta e não se expor em uma rede social aberta para o mundo inteiro ver.

quanto a mim, sempre gostei de fotografias, desde quando só era possível fazer registros fotográficos analógicos, desde quando as fotografias serviam apenas como registros para nós mesmos, inclusive tenho uma caixa com muitas fotografias guardadas em álbuns. mas aqui mesmo, neste blog (que eu não sei até quando pretendo manter, mas que mantenho ainda somente por ser um espaço mais específico para a publicação de poemas e outros textos, inclusive de outros autores, para pessoas que eu sei que terão verdadeiro interesse em ler e que não buscam apenas a superficialidade de meia dúzia de palavras como legenda para selfies ou outros tipos de fotografias), de vez em quando compartilho registros fotográficos feitos por mim, da natureza, de bichos, de cenas urbanas, grafites e qualquer coisa que contenha algum significado poético. gosto, também, de algumas selfies que vejo pelos mares da internet, algumas são imagens bonitas, interessantes.

não gosto é quando há apenas o raso discurso do "#goodvibesonly" ou "#shinyhappypeople", até porque quem mostra e espera ver nos outros apenas as luzes, o lado iluminado, geralmente se torna uma pessoa com pouca capacidade empática e, como consequência, ignora a realidade das próprias sombras e das sombras que há ao seu redor, os horrores que acontecem diariamente pelo mundo. ainda pior é quando essa falta de sensibilidade aliada ao vício de ter que estar sempre fotografando tudo, em qualquer momento, em qualquer lugar, faz com que certas pessoas percam a mínima sensatez e acabem agindo como urubus diante da carniça - embora seja uma enorme injustiça, para os urubus, compará-los com essas pessoas.


não é uma novidade o ser humano sentir prazer em observar a vida alheia (inclusive a desgraça alheia) e, principalmente, sentir-se como o centro do Universo, das atenções (desde um princípio antropocêntrico que tem levado à destruição inconsequente do meio ambiente, inclusive). mas agora, com as redes sociais, esse comportamento, de se expor tanto quanto de observar, tornou-se ainda mais simples e apenas mais evidente. eu, inclusive, poderia fazer parte das redes sociais, caso quisesse ampliar o número de leitores dos meus poemas e outros textos, por exemplo, afinal o desejo de me expressar através das palavras escritas é o que há de mais essencial em mim, desde muito tempo antes da existência das redes sociais, mas eu não me meço por números, inclusive opto, mesmo através deste blog, por não manter o espaço destinado aos "seguidores".

redes sociais servem principalmente para quem gosta de se expor e observar a vida alheia diariamente, ou, no mínimo, frequentemente, o que não é o meu caso, pois além de eu não ver sentido e não ter nenhuma necessidade em ficar compartilhando o que quer que seja diariamente, também não tenho o menor interesse em ficar dia após dia vendo o que os outros estão fazendo, pensando, comendo, bebendo, comprando, nem mesmo em relação aos meus amigos, familiares ou conhecidos.

mesmo no blog às vezes passo dias sem entrar ou sem compartilhar algum conteúdo, às vezes semanas. de qualquer modo, penso que se for para se expor, seja lá onde for e independente da frequência, a exposição só faz sentido, para mim, se for para levantar questionamentos, por exemplo, ou provocar possibilidades de tomadas de consciência sobre o mundo, sobre a vida, inclusive e especialmente a vida dos bichos e, principalmente, se for para acrescentar algo de poesia, de mais artístico no mundo. do contrário, se for para ficar apenas nutrindo a flor do umbigo ou como gente mexeriqueira que fica diariamente espiando a vida alheia na janela, não me interessa. mas, como disse anos atrás José Ângelo Gaiarsa, "a fofoca governa o mundo". o ser humano, com as redes sociais, entrou em uma "egotrip" ainda mais estranha, agora querendo justificar, como se houvesse uma conotação positiva, a seguinte velha máxima: falem bem ou falem mal, mas falem de mim.

sobre todos nós, e para todos nós, principalmente para quando estamos, ou estivermos, com nossos egos muito inflados, pensando que somos, para os outros, muito mais importantes e imprescindíveis do que o que realmente somos, dois trechos de um poema de Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa):

"(...) De que te serve
o quadro sucessivo
das imagens externas
A que chamamos
o mundo?
A cinematografia
das horas representadas
Por actores de convenções
e poses determinadas,
O circo policromo do nosso
dinamismo sem fim?
De que te serve
o teu mundo interior
que desconheces? (...)

(...) Fazes falta? Ó sombra fútil
chamada gente!
Ninguém faz falta; não fazes
falta a ninguém...
Sem ti correrá tudo sem ti. (...)"


ou, de um modo mais direto, mas não menos poético, uma frase de uma música que ouvi dias atrás: "Ninguém neste mundo é porra nenhuma."

2 de fevereiro de 2020

el cielo está dentro de mí

(fim de tarde) 


"(...) el cielo está dentro de uno
y está el infierno también
el alma escribe sus libros
pero ninguno los lee

a veces uno camina
entre la sombra y la luz
en la cara la sonrisa
y en el corazón la cruz

búscalo al cielo en ti mismo
que allí lo vas a encontrar
pero no es fácil hallarlo
pues hay mucho que luchar

por caminos solitarios
yo me puse a caminar
por fuera nada buscaba
pero por dentro quizás."


(Pablo del Cerro /Atahualpa Yupanqui)

26 de janeiro de 2020

Revista InComunidade

mais alguns dos meus poemas foram publicados na revista portuguesa (do Porto) InComunidade (na primeira edição de 2020, número 88). para quem quiser ler a edição da revista, eis aqui o link: 

21 de janeiro de 2020

dos ventos nazistas sobre o Brasil + dancinha para saudar a vida

em vídeo para divulgar concurso de arte e que gerou polêmica nos últimos dias, Roberto Alvim, o agora ex-secretário da Cultura do (des)governo Bolsonaro, parafraseou trechos de um discurso de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda da Alemanha nazista e ser humano muito bondoso que cometeu suicídio com sua esposa depois de matarem seus seis filhos com veneno. a música utilizada no vídeo de Alvim é a ópera Lohengrin, de Richard Wagner, que era admirado por Hitler. 

"A arte brasileira será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo, ou então não será nada", disse Alvim no vídeo. as frases de Alvim foram comparadas a um discurso de Goebbels reproduzido no livro Goebbels: a Biography, de Peter Longerich: "A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada". posteriormente, depois de saber da repercussão negativa sobre o vídeo, Alvim cinicamente disse se tratar de uma "coincidência retórica".

nota divulgada pela Confederação Israelita do Brasil (Conib) sobre o vídeo de Alvim: "Emular a visão do ministro da Propaganda nazista de Hitler, Joseph Goebbels, é um sinal assustador da sua visão de cultura, que deve ser combatida e contida. Goebbels foi um dos principais líderes do regime nazista, que empregou a propaganda e a cultura para deturpar corações e mentes dos alemães e dos aliados nazistas a ponto de cometerem o Holocausto, o extermínio de 6 milhões de judeus na Europa, entre tantas outras vítimas. O Brasil, que enviou bravos soldados para combater o nazismo em solo europeu, não merece isso. Uma pessoa com esse pensamento não pode comandar a cultura do nosso país e deve ser afastada do cargo imediatamente."

através de um post em seu perfil no Facebook, Bolsonaro anunciou o desligamento de Roberto Alvim da Secretaria de Cultura do Governo. "um pronunciamento infeliz" de Alvim, escreveu Bolsonaro, o presidente conhecido por tantos "pronunciamentos infelizes" e que, obviamente, demitiu Alvim apenas por causa da pressão e repercussão negativa sobre o caso. ou alguém pensa que Bolsonaro realmente discorda do posicionamento de Roberto Alvim? convém sempre lembrar (e eu lembrarei sempre e principalmente enquanto Bolsonaro estiver na presidência do país) que:

- na Alemanha de Hitler, uma das frases mais repetidas era "Deutschland über alles", que quer dizer "Alemanha acima de tudo". o slogan da campanha de Bolsonaro foi: "Brasil acima de tudo. Deus acima de todos", frases que ele constantemente segue dizendo. uma mera coincidência apenas? além disso, através da frase "Deus acima de todos" é possível fazer uma conexão com o discurso feito por Bolsonaro dois anos antes de se tornar presidente e que evidencia sua sanha ditatorial: "Somos um país cristão, não existe essa historinha de Estado laico, não. É um Estado cristão. Vamos fazer o Brasil para as maiorias, as minorias têm que se curvar para as maiorias. As minorias que se adequem ou desapareçam", ou seja, não podem ter vez e voz os brasileiros ateus, agnósticos, umbandistas, budistas e tantos outros em um país (de grande diversidade de etnias, culturas, religiões, vozes) governado por alguém como Bolsonaro, que nunca foi e nem nunca será uma voz minimamente conciliadora entre tantas vozes.

- depois daquela famosa entrevista que Bolsonaro deu ao programa CQC e que, na época, em 2011, gerou muita polêmica, neonazistas organizaram um ato de defesa a ele, no MASP, em São Paulo. Bolsonaro não esteve presente, mas apoiou a manifestação. dois anos antes dessa manifestação, alguns desses neonazistas haviam participado de um atentado à bomba em uma Parada LGBT, em São Paulo, quando 40 pessoas ficaram feridas.

- na votação do impeachment de Dilma Rousseff, aquele circo de horrores e de hipocrisias, Bolsonaro parabenizou Eduardo Cunha e homenageou o coronel Brilhante Ustra, o líder das torturas na ditadura militar, "o pavor de Dilma Rousseff", como disse Bolsonaro em seu discurso. Bolsonaro exaltou Brilhante Ustra em outras ocasiões, inclusive durante entrevista no programa Roda Vida ao citar como seu "livro de cabeceira" um livro escrito por Brilhante Ustra. além de Brilhante Ustra, Bolsonaro já exaltou, em outras diversas ocasiões, inclusive mais recentemente, gente como o ditador chileno Pinochet, o ditador peruano Fujimori e o ditador paraguaio Stroessner, o pedófilo, responsáveis pelas mortes de milhares de pessoas, ou seja, Bolsonaro desliga de seu governo, apenas por pressão externa, um simpatizante nazista declarado, mas desde muito tempo tem seus ditadores de estimação - da mesma forma que ainda há muitos que admiram, por exemplo, Stalin (51 % dos russos, segundo uma pesquisa recente, além de tantas outras pessoas em vários outros lugares do mundo), Mao Tsé-Tung e vários outros, afinal há sempre em cada lado gente que, de modo seletivo, prefere ignorar atrocidades específicas que ocorreram e que ainda ocorrem no mundo.

Bolsonaro convidou a atriz Regina Duarte para assumir a liderança da Secretaria da Cultura. Regina Duarte, que compartilhou mensagem no Instagram para falar sobre o encontro entre os dois, chamou Bolsonaro de "homem santo" (agora é necessário rir por escrito: rsrsrsrsrs!). independente de quais serão as próximas cenas dessa novela, ou desse filme tragicômico, na verdade, vale a pena ver de novo algumas das cenas mais marcantes da vida real de Regina Duarte (fazer como a Dilma e saudar a mandioca? que nada! admirável mesmo é fazer uma dancinha "para saudar a vida", como diz o próprio título do vídeo, no castelo de Caras, símbolo da burguesia mais cafona que há), divirtam-se:


12 de janeiro de 2020

8 poemas de Thiago de Mello



Como um rio

Ser capaz, como um rio
que leva sozinho
a canoa que se cansa,
de servir de caminho
para a esperança.

E de levar do límpido
a mágoa da mancha,
como o rio que leva
e lava.

Crescer para entregar
na distância calada
um poder de canção,
como o rio decifra
o segredo do chão.

Se tempo é de descer,
reter o dom da força
sem deixar de seguir.
E até mesmo sumir
para, subterrâneo,
aprender a voltar
e cumprir, no seu curso,
o ofício de amar.

Como um rio, aceitar
essas súbitas ondas
feitas de águas impuras
que afloram a escondida
verdade das funduras.

Como um rio, que nasce
de outros, sabe seguir
junto com outros sendo
e noutros se prolongando
e construir o encontro
com as águas grandes
do oceano sem fim.

Mudar em movimento,
mas sem deixar de ser
o mesmo ser que muda.
Como um rio.


***


O açude

Não sei nem jamais
saberei o nome
(se acaso tem nome)
do bicho que dorme
no escuro do açude
sem fundo que sou.
Nascido, senão
comigo, de mim,
é um bicho, ou como
se fosse; e que dorme.
Nem sempre ele dorme.
Talvez o agasalhem,
de sono enrolado,
as mais fundas águas
que em minha alma dormem:
- as águas e o bicho
num sono só, feito
de grávidos nadas
espessos e imóveis.
Mas nem sempre imóveis.
Um dia estremecem:
sem causa, e de súbito,
um tremor percorre,
longínquo, levíssimo,
o nervo das águas
- essas águas fundas
que enrolam, dormidas,
o sono do bicho,
que já não é sono:
mal findo o arrepio,
começa a lavrar
o incêndio no açude.


***


O silêncio da floresta

Tem consistência física,
espessamente doce,
o silêncio noturno
da floresta.
Não é como
o do vento e vastidão,
cujos dentes de neve
morderam a minha
solidão.
Nem como o silêncio
aterrador
(no seu âmago
o tempo brilha imóvel)
do deserto chileno
de Atacama, onde,
um entardecer,
estirado entre
areia e pedras,
escutei cheio
de assombro
o latir do meu
próprio coração.

O silêncio da floresta
é sonoro: os cânticos
dos pássaros da noite
fazem parte dele,
nascem dele,
são a sua voz
aconchegante.

Sozinho no centro
da noite amazônica,
escuto o poder mágico
do silêncio,
agora quando os pássaros
conversam com as estrelas,
e recito silenciosamente
o nome lindo
da mulher que eu amo.


***


Faz escuro mas eu canto

Faz escuro mas eu canto,
porque a manhã vai chegar.
Vem ver comigo,
companheiro,
a cor do mundo mudar.
Vale a pena não dormir
para esperar
a cor do mundo mudar.
Já é madrugada, vem o sol,
quero alegria,
que é para esquecer
o que eu sofria.
Quem sofre fica acordado
defendendo o coração.
Vamos juntos, multidão,
trabalhar pela alegria,
amanhã é um novo dia.


***


Quando a verdade for flama

As colunas da injustiça
sei que só vão desabar
quando o meu povo, sabendo
que existe, souber achar
dentro da vida o caminho
que leva à libertação.
Vai tardar, mas saberá
que esse caminho começa
na dor que acende uma estrela
no centro da escravidão.
De quem já sabe, o dever
(luz repartida) é dizer.
Quando a verdade for flama
nos olhos da multidão,
o que em nós hoje é palavra
no povo vai ser ação.


***


Não aprendo a lição

A lição de conviver,
senão de sobreviver
no mundo feroz dos homens,
me ensina que não convém
permitir que o tempo injusto
e a vida iníqua me impeçam
de dormir tranquilamente.
Pois sucede que não durmo.

Frente à verdade ferida
pelos guardiães da injustiça,
ao escárnio da opulência
e o poderio dourado
cujo esplendor se alimenta
da fome dos humilhados,
o melhor é acostumar-se,
o mundo foi sempre assim.
Contudo, não me acostumo.

A lição persiste sábia:
convém cabeça, cuidado,
que as engrenagens esmagam
o sonho que não se submete.
E que a razão prevaleça
vigilante e não conceda
espaços para a emoção.
Perante a vida ofendida
não vale a indignação.
Complexas são as causas
do desamparo do povo.
Mas não aprendo a lição.
Concedo que me comovo.


***


Para os que virão

Como sei pouco, e sou pouco,
faço o pouco que me cabe
me dando inteiro.
Sabendo que não vou ver
o homem que quero ser.

Já sofri o suficiente
para não enganar a ninguém:
principalmente aos que sofrem
na própria vida, a garra
da opressão, e nem sabem.

Não tenho o sol escondido
no meu bolso de palavras.
Sou simplesmente um homem
para quem já a primeira
e desolada pessoa
do singular - foi deixando,
devagar, sofridamente,
de ser, para transformar-se
- muito mais sofridamente -
na primeira e profunda
pessoa do plural.

Não importa que doa: é tempo
de avançar de mão dada
com quem vai no mesmo rumo,
mesmo que longe ainda esteja
de aprender a conjugar
o verbo amar.

É tempo sobretudo
de deixar de ser apenas
a solitária vanguarda
de nós mesmos.
Se trata de ir ao encontro.
(Dura no peito, arde a límpida
verdade dos nossos erros)
Se trata de abrir o rumo.

Os que virão, serão povo,
e saber serão, lutando.


***


Aprendizagem no vento

O vendaval findou.
Agora é só o vento
soprando a sua ferocidade
mais fria do que a pele
enrijecida e azulada
dos operários fuzilados.

O vendaval findou.
Agora é só o vento cotidiano,
implacavelmente morno,
hálito podre.
É com ele que se tem de aprender
a lição do revés, vida vivida.

Dos tantos que saíram,
poucos, muito poucos,
se reencontrarão um dia, tomara,
naquilo que foram
ou que não puderam ser.
Por enquanto, a cordilheira transposta,
o que se alteia
é o desvario da boca,
é cada vez mais o muro
entre a boca e a mão.

Aos que sonhavam mesmo,
vendo o claro,
e que puderam permanecer
no coração ardente da sombra,
cabe o labor maior
da aprendizagem.
É aprender com tudo
o que foi feito
e também com tudo
que deixou de ser feito,
como rasgar o caminho
da esperança que lateja,
que lateja, na frágua
da paciência operária.

O vendaval findou.
Telhados ocos
não poderão
servir de abrigo
a pássaros.




o poeta e tradutor Thiago de Mello nasceu na cidade de Barreirinha, no Amazonas, em 1926. desde cedo sua obra foi marcada pela identificação com a cultura de seu estado e pelo engajamento político e social. perseguido durante a ditadura no Brasil, exilou-se no Chile, onde permaneceu por dez anos (inclusive tornando-se amigo de Violeta Parra e Pablo Neruda, que traduziu para o espanhol os poemas de Thiago de Mello). durante o exílio, morou também na Argentina, na Alemanha, na França e em Portugal. com o fim do regime militar, voltou à sua cidade natal, onde vive até hoje. 

5 de janeiro de 2020

de dentro da gaveta da alma da gente



tem bem e mal e água e sal
que chora e bota fora
um temporal daqui
de dentro da gaveta
da alma da gente

tem sim e não no coração
que o tempo da beleza
é vendaval também
lá dentro da gaveta
da alma da gente

prefiro acreditar
que ser diferente
é rir dessa tristeza
que a gente sente
e tiro da cabeça
um carnaval sem fim
linda avenida
que essa vida faz surgir

vem ver o mar ser a música
que leva o teu caminho
muito além do azul
da tela da janela
da alma da gente

cuida do grão nessa multidão
só pra lembrar que o muito
é bom trocar por um
mergulho verdadeiro
na alma da gente

se tudo acaba
feito estrela cadente,
quem pode te dizer
que, daqui pra frente,
tem hora pra chorar
ou ser feliz, me diz?
não sabe nada, nada
quem não quer sorrir

vem ver o mar, ver o sal
ver o grão, ver o não
ver o fim, ver o bem, ser feliz
vem ver o azul ser a música
ver o sim, ver o mal, ver além
vem sorrir



música, letra e voz: Fernando Temporão
imagens: Leo Bittencourt e Ava Rocha
direção e edição: Ava Rocha


2 de janeiro de 2020

para o começo (e qualquer época) do ano






fragmentos extraídos
das páginas 96 e 203
do Livro do Desassossego
Fernando Pessoa - Barueri, SP :
Ciranda Cultural Editora, 2018.

19 de dezembro de 2019

um índio

um índio descerá de uma estrela
colorida, brilhante
de uma estrela que virá
numa velocidade estonteante
e pousará no coração do Hemisfério Sul
na América, num claro instante
depois de exterminada
a última nação indígena
e o espírito dos pássaros
das fontes de água límpida
mais avançado que a mais avançada
das mais avançadas das tecnologias
virá, impávido que nem Muhammad Ali
virá que eu vi
apaixonadamente como Peri
virá que eu vi
tranquilo e infalível como Bruce Lee
virá que eu vi
o axé do afoxé Filhos de Gandhy
virá

um índio preservado
em pleno corpo físico
em todo sólido, todo gás e todo líquido
em átomos, palavras, alma, cor
em gesto, em cheiro, em sombra
em luz, em som magnífico
num ponto equidistante
entre o Atlântico e o Pacífico
do objeto, sim, resplandecente
descerá o índio
e as coisas que eu sei que ele dirá, fará
não sei dizer assim de um modo explícito
virá, impávido que nem Mohammad Ali
virá que eu vi
apaixonadamente como Peri
virá que eu vi
tranquilo e infalível como Bruce Lee
virá que eu vi
o axé do afoxé Filhos de Gandhy
virá

e aquilo que nesse momento
se revelará aos povos
surpreenderá a todos
não por ser exótico
mas pelo fato de poder
ter sempre estado oculto
quando terá sido o óbvio.


(composição e voz de Caetano Veloso
no álbum Bicho, de 1977)



15 de dezembro de 2019

Gazeta de Poesia Inédita

meu poema intitulado corrente foi publicado na Gazeta de Poesia Inédita, do poeta português José Pascoal (autor dos livros Sob Este Título, Antídotos e Excertos Incertos, todos publicados pela Editorial Minerva, de Lisboa). aos que quiserem ler meu poema inédito, eis aqui o link: