12 de dezembro de 2019
7 de dezembro de 2019
do que vale mais
montes de dinheiro, roupas de marcas caras, mansão, carrão, o tangível no aumentativo, arroto de caviar, veuve clicquot ou dom pérignon, alarde de diplomas, nutrição de flor de umbigo em rede social, barrigas chapadas em egos inflados, desfile de riqueza material, qualquer coisa com a qual o capiroto da ganância possa querer nos seduzir em troca das nossas almas, etc. e tal, nada disso me impressiona. impressionante mesmo, para mim, é quem enxerga além do que é palpável, descobre universos nas miudezas, no ínfimo e no grandioso da natureza, a Floresta Amazônica, o sol, é quem mostra também as próprias sombras, os anéis de Saturno, a luz da lua sobre o mar, as estrelas, aurora boreal, as pedras de Torres, a Praia da Guarita, da Cal, Machu Picchu no topo de uma montanha, o chão e o céu do Deserto de Atacama, do Saara, do Salar de Uyuni, o lago Titicaca, a branca imensidão da Antártida, da Groenlândia, a chuva, os raios, o voo dos pássaros, os olhos das corujas, dos lobos, dos peixes, a sobriedade elegante dos gatos, a força e o instinto de coletividade das formigas, das abelhas, a pureza do meu cachorro, dos outros cachorros, os bichos todos, pois não precisam de filosofia, banho de loja, sabem a que vieram e não se perguntam de onde e por quê. afinal, como disse José Saramago, "o instinto serve melhor aos bichos do que a razão serve aos seres humanos."
(curtindo o sol)
29 de novembro de 2019
aos garis e margaridas
se os poetas
parassem de escrever,
nada de mais aconteceria
(poesia: com a qual
ou sem a qual,
o mundo
não continuaria
tal e qual?),
telas e papéis ainda
seriam fabricados
para morrerem
em branco
ou iluminados
enquanto o sol
para todos nasceria.
se os músicos
parassem de compor,
nada de mais aconteceria
(ainda que a música
possa ser para a alma
o que o alimento
é para o corpo),
as rádios continuariam
suas programações
com músicas
das décadas passadas
e os ouvidos passariam
a ouvir mais (quem sabe?)
uma voz que só pode
ser ouvida através do silêncio.
se os pintores
parassem de pintar,
nada de mais aconteceria
(nas cores que a gente pinta,
ainda a vida),
o céu continuaria
às vezes indeciso
entre o laranja e o violeta
às seis horas da tarde
e ainda haveria terra
em alguns tons de marrom
como os da mistura de tintas
das três cores primárias.
mas se os garis
e as margaridas
(imprescindíveis
a escapar das retinas)
parassem de varrer as ruas,
estaríamos todos sujos.
parassem de escrever,
nada de mais aconteceria
(poesia: com a qual
ou sem a qual,
o mundo
não continuaria
tal e qual?),
telas e papéis ainda
seriam fabricados
para morrerem
em branco
ou iluminados
enquanto o sol
para todos nasceria.
se os músicos
parassem de compor,
nada de mais aconteceria
(ainda que a música
possa ser para a alma
o que o alimento
é para o corpo),
as rádios continuariam
suas programações
com músicas
das décadas passadas
e os ouvidos passariam
a ouvir mais (quem sabe?)
uma voz que só pode
ser ouvida através do silêncio.
se os pintores
parassem de pintar,
nada de mais aconteceria
(nas cores que a gente pinta,
ainda a vida),
o céu continuaria
às vezes indeciso
entre o laranja e o violeta
às seis horas da tarde
e ainda haveria terra
em alguns tons de marrom
como os da mistura de tintas
das três cores primárias.
mas se os garis
e as margaridas
(imprescindíveis
a escapar das retinas)
parassem de varrer as ruas,
estaríamos todos sujos.
20 de novembro de 2019
3 de novembro de 2019
cá da Terra
se apenas na parte
visível do Universo
existem mais
de cem bilhões
de galáxias
e em cada
galáxia
uma
média
de cem
bilhões
de estrelas,
estupidez
é ater-se
à língua
comprida
e bifurcada
de quem usa
telas e janelas
somente para
observar
a vida
alheia.
(imagem: foto de Carlos Fairnbairn)
28 de outubro de 2019
30 de setembro de 2019
dos moralismos e hipocrisias
mais uma criança foi morta por "bala perdida" (dessas balas perdidas que geralmente acabam encontrando como alvos os corpos de negros e pobres) no Rio de Janeiro. somente neste ano, nos meses de governo Witzel, 1.249 pessoas morreram em favelas, 44 policiais morreram e 16 crianças foram baleadas - 5 dessas foram mortas. não é simplesmente, como querem fazer parecer alguns, efeito colateral do combate ao crime, é uma carnificina, uma política de segurança pública (de extermínio, na verdade) que autoriza a polícia a atirar "na cabecinha", como disse o próprio governador do Rio de Janeiro, algo que me faz lembrar de Bolsonaro dizendo anos atrás, em uma entrevista na televisão, que era necessário "fazer uma guerra civil" no país e "matar uns 30 mil", mesmo que morressem alguns inocentes, "tudo bem", segundo ele.
pouco tempo atrás, Bolsonaro elogiou Stroessner, o PEDÓFILO e torturador que foi presidente do Paraguai. Crivella, o prefeito do Rio de Janeiro, recentemente fez alarde querendo censurar um livro que seria vendido na Bienal do Rio pelo fato de haver nele a imagem de um beijo entre dois personagens masculinos. A ministra Damares já disse (e esse é apenas um dos tantos absurdos saídos de sua mente lunática) que na Holanda os pais masturbam seus filhos bebês para que eles se tornem adultos sexualmente saudáveis. são essas as pessoas, e tantas e tantas outras (governantes, pastores, etc.), que, obcecadas pela sexualidade alheia, constantemente pregam "a moral dos bons costumes", como se estivessem muito preocupadas com a educação das crianças, mas que pouco ou nada dizem quando algumas dessas crianças são assassinadas.
em seu discurso mentiroso na ONU, Bolsonaro disse que "a 'ideologia' invadiu nossos lares e tenta destruir a inocência de nossas crianças". um discurso ideológico (de uma voz nada conciliadora) contra "a ideologia", ou seja, hipócrita, moralista. Bolsonaro, Damares, Crivella, e esses outros pastores que apoiam o atual governo, fizeram alguma crítica sobre o fato, por exemplo, de o apresentador, dono da emissora de televisão SBT, Silvio Santos (aliado de Bolsonaro), exibir em seu programa, no domingo em rede nacional, crianças vestidas com maiô, como se fossem adultas, para que escolhessem aquela que tivesse, segundo o que o próprio Silvio Santos disse, "as pernas mais bonitas, o corpo"? obviamente: não.
em seu discurso mentiroso na ONU, Bolsonaro disse, também, que "o ambientalismo radical" e o "indigenismo ultrapassado" representam "o atraso" e que seu governo tem "tolerância zero para criminalidade, incluindo crimes ambientais". ele desmontou toda a estrutura de fiscalização dos órgãos governamentais de defesa do meio ambiente, mas na ONU, onde estaria falando para o mundo inteiro, ele diz que tem "tolerância zero com crimes ambientais", ou seja, mente descaradamente. e quem é Bolsonaro, um homem que sempre destilou diversos preconceitos, um dos políticos mais retrógrados do mundo, que discursa "como se estivesse ainda na Guerra Fria" (como bem disse um professor da UERJ), para falar sobre atraso?
alguns políticos, pastores e outras pessoas que cometem absurdos (o deputado e pastor Marco Feliciano, aquele que já foi gravado pedindo o cartão de crédito de uma pessoa na igreja, recentemente teve seu tratamento dentário, no valor de 157 MIL REAIS, pago pela Câmara dos Deputados, ou seja, pelo povo, Bolsonaro dizendo que usava o dinheiro que recebia do auxílio-moradia para "comer gente", Damares e Witzel dizendo que possuem diplomas que, na verdade, eles não têm, etc., etc., etc.) são as pessoas que, cheias de imoralidades em suas vidas mais sujas que pau de galinheiro e ao mesmo tempo com discurso moralista e hipócrita, querem censurar a arte no país, exposições, filmes, livros, etc.
governos autoritários não querem cidadãos que façam questionamentos através da arte, do cinema, do teatro, da música, da literatura, da filosofia, da poesia, querem cidadãos que apenas digam "amém", que não se oponham sobre nada. Fernanda Montenegro, por exemplo, uma das grandes atrizes do Brasil e do mundo, recentemente foi alvo do ódio cego de ignorantes pelo fato de se posicionar politicamente. há uma frase que é atribuída ao escritor Caio Fernando Abreu, que eu não sei se realmente é dele, mas que eu gosto muito, que diz o seguinte: "é melhor ser rejeitado por ser sincero do que ser aceito sendo hipócrita". há uma outra frase, que eu não sei a autoria, que diz o seguinte: "se 'todo mundo' gosta de você é porque você não está se posicionando o suficiente".
há pessoas (moralistas e hipócritas) que às vezes se dizem "chocadas" com algumas representações artísticas, com algumas imagens em livros e em espaços na internet ou com o uso de algumas palavras tidas como "palavrões" ("palavrão mesmo é condomínio, pedágio, fome", como certa vez disse Dercy Gonçalves), mas que não se dizem ou não se mostram chocadas quando, por exemplo, um presidente de um país exalta a tortura, torturadores, pedófilos, assassinos, quando políticos grosseiros e extremamente ignorantes incitam a intolerância e a violência entre as pessoas.
há pessoas (moralistas e hipócritas) que pregam a "paz" (e agindo não muito diferente desses com armas nas mãos e que erram o alvo matando pessoas inocentes), mas estão cheias de ira buscando alvos errados para serem julgados por elas - são pessoas que se sentam diante de um computador, ou com um telefone nas mãos, e armadas com suas línguas e dedos miram seus julgamentos contra os que ousam criticar as verdadeiras barbáries mesmo sabendo que por isso serão alvos dos que preferem compactuar com os horrores do mundo.
há pessoas (moralistas e hipócritas), geralmente covardes que nem sequer mostram a cara (esses tantos que geralmente não dão a cara a tapas ao dizerem o que pensam, protegidos atrás de imagens que não são de si mesmos), que em vez de usarem suas palavras contra os canalhas e perigosos que estão no poder (des)governando cidades, estados e países e desgraçando a vida de tantas pessoas e bichos, preferem usar suas palavras contra os que usam suas palavras contra a ignorância nociva, os preconceitos, o retrocesso, a estupidez humana...
há pessoas (moralistas e hipócritas) que provavelmente se sentem maiores quando tentam, no desejo de buscar atenção com seus julgamentos (muitas vezes evidentes demonstrações de inveja), diminuir outras pessoas ("quando Pedro me fala de Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo", como escreveu Freud).
há pessoas (moralistas e hipócritas), geralmente caretas de ideias antiquadas, ultrapassadas, que querem da arte um (falso) puritanismo, que querem dos livros somente palavras assépticas, que rejeitam o fato de que a arte, a literatura e a poesia podem ser provocativas e servem, também, para que possamos expandir a mente e, assim, fazer caber nela mais da realidade do mundo. mas há quem prefira, antes de tudo cerceando a si mesmo, ver em uma rosa apenas as pétalas e negar a existência dos acúleos em seu caule.
14 de setembro de 2019
7 de setembro de 2019
1 de setembro de 2019
O Excrementíssimo Senhor Presidente da República Federativa do Brasil
(aquarela de Mauricio Conforto)
dessa boca
não é novidade
sair tanta merda
o atual presidente do Brasil voltou a ser o "Bolsonaro raiz", o verdadeiro, aquele que passou décadas como deputado dizendo as mais diversas estupidezes, destilando os mais diversos tipos de preconceitos sobre os mais diversos assuntos, o machão que não controlava a língua dentro da boca, diferente de quando antes das eleições presidenciais fugiu dos últimos debates na televisão para não evidenciar ainda mais, apenas durante breves momentos, seu total despreparo e suas imensas ignorâncias. mas Bolsonaro sempre foi aquele que disse, por exemplo, que "o erro da ditadura foi torturar e não matar" (e mais recentemente andou dizendo que "não houve ditadura" no Brasil), ou que Pinochet "fez o que tinha que fazer" no Chile e que ele "devia ter matado mais gente", ou que preferia que o próprio filho morresse em um acidente se fosse gay, ou quando posou para uma fotografia ao lado de um cartaz que debochava das buscas por desaparecidos políticos da ditadura com a seguinte frase: "quem procura osso é cachorro". são apenas alguns exemplos, mas a lista de declarações repugnantes já era imensa.
agora, já como presidente, Bolsonaro continua demonstrando quem de fato sempre foi, quem de fato é (e agora, somente agora, há por aí os que se dizem "surpresos" sobre Bolsonaro e seu governo, como se ele não estivesse há quase três décadas, inclusive muitas vezes até mesmo em programas popularescos da televisão, mostrando exatamente o que sempre representou ser e sem ter feito, durante todos esses quase trinta anos, absolutamente nada de relevante como deputado, mas mesmo sempre tendo sido um medíocre, um declarado adorador de torturadores, um grosseiro desequilibrado que não aceita ser contrariado, criticado, um ignorante, que já havia deixado bem claro qual era o seu posicionamento em relação às questões ambientais, aos indígenas, aos quilombolas e à Amazônia, inclusive, mesmo assim há gente por aí que agora se diz surpresa sobre quem ele é e como está conduzindo seu governo - porém, ainda pior do que uma pessoa ter sido ignorante sobre Bolsonaro é saber exatamente quem ele é e, ainda assim, compactuar com o que ele representa de ruim para o Brasil e para o mundo):
segundo o excrementíssimo senhor presidente do Brasil, "o racismo no Brasil é coisa rara", frase dita recentemente em entrevista a Luciana Gimenez, apresentadora profunda como um pires, que concordou com tal afirmação. em se tratando de declarações estúpidas, alguma novidade? há algum tempo ele já havia dito, por exemplo, em entrevista ao ator britânico Stephen Fry (que depois da entrevista disse que aquela havia sido uma das experiências mais sinistras que ele já teve na vida), que "não existe homofobia no Brasil". são exemplos que apenas reforçam algo que há muito tempo eu penso: todos somos, de alguma forma, preconceituosos em algumas circunstâncias, mas as pessoas mais preconceituosas que existem são muitas vezes exatamente aquelas que mais negam a existência dos preconceitos (e que geralmente dizem que são "vitimistas" os que são alvos desses preconceitos, dizendo isso porque obviamente são pessoas com determinados privilégios e que não têm uma gota de empatia correndo em suas veias). chega a ser cômico, ou tragicômico, na verdade, o fato de que uma pessoa como o atual presidente, que tem um histórico tão grande de declarações preconceituosas, negue a existência da homofobia e do racismo no Brasil.
ainda segundo o excrementíssimo atual presidente, "o Brasil não pode ser um país do 'mundo gay', do turismo gay, temos famílias" (inclusive ele sempre deixou claro, também, que governaria para "a família", a dele própria, claro, e a ignorância de Bolsonaro é tão grande que talvez ele esqueça que gays também têm famílias, formam famílias, vêm de um pai e de uma mãe como todo mundo, ou será que ele pensa que gays nascem em árvores?), mas "quem quiser vir ao Brasil para fazer sexo com mulher, fique à vontade" (o que esperar de um político que já declarou que usava dinheiro público, do auxílio-moradia, para "comer gente" ou que já admitiu até mesmo, dando risada na televisão, que já fez sexo com bichos?). ou: falar que se passa fome no Brasil "é uma grande mentira". e sobre a indicação do filho Eduardo à embaixada brasileira nos Estados Unidos (nepotismo define), disse que "é lógico" que vai beneficiar um filho, vai dar "filé mignon" (enquanto 290 agrotóxicos já foram liberados desde o início do governo, um recorde na aprovação de agrotóxicos no Brasil, sendo que alguns desses, por serem extremamente tóxicos, estão proibidos em outros países), ou que "só veganos" se importam com a questão ambiental, ou que o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) "mente sobre o desmatamento" no país (e enquanto Bolsonaro tenta omitir a verdade, o fato é que o número de queimadas dobrou na Amazônia em relação ao mesmo período de 2018 - e como a Marina Silva disse: "as queimadas sempre ocorreram, mas nunca incentivadas por discurso de um presidente"), ou como dias atrás ao defender as vaquejadas ele disse que "não existe o politicamente correto" (como se a crueldade contra os animais pudesse ser justificada com a desculpa cretina de não ser "politicamente correto"), dizendo ter "muito orgulho" de defender os rodeios e vaquejadas, assinando um decreto que autoriza atividades como a "prova do laço" (o que esperar de diferente vindo de alguém que já disse, tempos atrás, que a caça é um "esporte saudável"?).
mas Bolsonaro é, segundo ele próprio se declara, "cristão", um "cidadão de bem", como se declaram também muitos dos que o apoiam, "cidadãos de bem". li dia desses em algum lugar a seguinte frase escrita por um professor: "eu gostaria de saber como funciona o raciocínio de alguém que diz que admira Jesus Cristo e Bolsonaro ao mesmo tempo". o fato é que muitas pessoas esquecem, ou ignoram por conveniência, que Bolsonaro tem, na verdade, um histórico de grande admiração por torturadores, e não por aqueles que, como Jesus Cristo, foram torturados até a morte. ele exalta homens monstruosos da História (Ustra, Pinochet, Stroessner, Fujimori, etc.), incita a intolerância entre as pessoas, mas foi batizado nas águas do rio Jordão e costuma citar trechos da Bíblia, então parece que para muitas pessoas que não são capazes de enxergar (ou preferem não enxergar) contradição nisso, o que importa de fato, e desconsiderando totalmente o restante, é que ele fale como se fosse uma espécie de salvador da pátria em nome de Deus (embora o verdadeiro "Deus" de muitas pessoas seja o dinheiro e isso também não é novidade), dos "bons costumes" e "contra a corrupção", que para essas pessoas que o admiram, para seus aliados e para ele próprio, parece que só deveria ter sido combatida se fosse em relação a um único partido, o PT, ou os apoiadores de Bolsonaro disseram algo contra a corrupção quando, por exemplo, já antes do início do (des)governo de Bolsonaro, seu filho Flávio, sua mulher Michele e Fábrício Queiroz estavam sendo investigados por esquema de lavagem de dinheiro, enriquecimento ilícito, mas com as investigações tendo sido canceladas pelo STF a pedido de Flávio Bolsonaro? e sobre o fato de alguns ministros do governo Bolsonaro (Tereza Cristina, Luiz Henrique Mandetta, Ricardo Salles, Paulo Guedes, Marcelo Álvaro, Augusto Heleno, só para citar alguns exemplos) terem sido investigados por corrupção, improbidade administrativa ou réus em ações judiciais? Onyx Lorenzoni admitiu o crime de "caixa 2", inclusive (e depois disse que já havia "se resolvido com Deus"). o que os que apoiam o governo Bolsonaro, que tanto falam sobre combate à corrupção, têm para dizer sobre o fato de que o presidente que eles elegeram, que chegou ao poder erguendo bandeira contra a corrupção, tenha em seu governo tantos ministros com pendências com a Justiça?
em vez de ficarem compartilhando tanta futilidade, inclusive sobre si mesmas, e notícias falsas por WhatsApp ou por onde quer que seja, há muitas pessoas que, caso quisessem ser mais sensatas e expandir mais as suas mentes com conteúdos que realmente acrescentem algo de mais valioso e até de mais poético para as suas vidas, deveriam adquirir mais conhecimento através de livros, de espaços na internet com mais cultura e não mal-intencionados (como a maior parte da grande mídia, inclusive), de vídeos interessantes no YouTube, afinal se hoje em dia quase todos têm, de alguma forma, acesso à internet, por que preferir ser ignorante e utilizá-la apenas da maneira mais superficial, estupidamente egocêntrica ou perniciosa possível? como costumam dizer, hoje o mundo está, ou pode estar, caso queiramos, em "nossas mãos", até mesmo para sabermos mais sobre a história do nosso próprio país ou de qualquer outro, por exemplo, podemos fazer isso dentro das nossas casas, diminuir nossas ignorâncias sobre qualquer assunto que seja, inclusive sobre política, e porque muita gente não o faz é que muitas vezes acaba inclusive contribuindo para que pessoas medíocres e nocivas ganhem poder, um poder que acaba muitas vezes sendo utilizado da maneira mais equivocada e egoísta possível. mas os que contribuem para que os medíocres e nocivos ganhem poder são muitas vezes, também, egoístas, usam o poder de seus votos, por exemplo, pensando apenas em si mesmos, não com um pensamento de inclusão em relação ao outro, são pessoas que muitas vezes dizem que não são classistas, por exemplo, mas são, pessoas que dizem que não são preconceituosas, mas são, ainda que muitas vezes de forma velada ou algumas vezes até mesmo escancarada, pessoas que dizem que não são racistas, mas são, como já aconteceu, e mais de uma vez, uma mais recentemente, por exemplo, de alguns torcedores do Grêmio, time de futebol do meu estado, ficarem gritando a palavra "macaco" para jogador negro de equipe adversária (e faço questão de dizer sempre que não sou racista: não tenho nada contra brancos), ou como eu mesmo já ouvi frases racistas de pessoas que conheço.
independente do estado (embora no caso do Brasil alguns dos estados do Nordeste sejam os que menos aceitam discursos classistas e prova disso é que nas últimas eleições presidenciais foram dos que menos votaram em Bolsonaro, que orgulho do Nordeste!, ao contrário do Sul e Sudeste, por exemplo, onde a maioria, mesmo que com várias opções de candidatos, desde o início preferiu aderir ao discurso autoritário de Bolsonaro), independente do país, pode ser aqui no Brasil, em Portugal, na França, nos Estados Unidos, onde quer que seja, o fato é que em qualquer lugar do mundo ainda há muitas pessoas que "normalizam" os preconceitos, a ignorância, a xenofobia, o desrespeito, a estupidez humana, os discursos de intolerância, pessoas que, como na linguagem popular, "passam pano" para pessoas como Bolsonaro, "ah, ele é apenas um homem bruto que diz o que pensa sem pensar muito para dizer, que expõe suas opiniões, etc.", não, ele não é apenas um homem bruto que expõe suas opiniões, até porque preconceito não é simplesmente opinião, é crime, inclusive, em muitos casos. mas ainda que o que eu diga ou escreva seja apenas o que eu digo ou escrevo e não sirva para mudar praticamente nada do que julgo ser ou estar errado sobre o que independe das minhas vontades - e talvez nem mesmo nos pensamentos dos que me ouvem ou leem minhas palavras -, ainda assim, e sobre determinadas questões, eu não me calo, afinal se calar diante da ignorância e do que é injusto é com a ignorância e com a iniquidade compactuar. aos que, por total conivência, não conseguem de forma alguma criticar Bolsonaro e nem sequer sabem ouvir ou ler qualquer crítica sobre ele e instantaneamente insistem apenas em falar sobre ex-presidentes, sobre o PT, convém lembrar que Lula está preso, que Dilma foi tirada da presidência do país há tempos e Haddad não foi eleito presidente (e nem assim determinadas pessoas se sentem satisfeitas, algumas talvez se sentiriam apenas se Lula, por exemplo, estivesse morto, ou fosse assassinado, qualquer repugnância do tipo, já que parece que muitos desses "cidadãos de bem" e "cristãos" de hoje em dia só se satisfazem, como na Inquisição, vendo gente sendo queimada, ainda que agora de modo figurado, como esses tantos que até hoje em dia, através de seus julgamentos, querem lançar outros tantos nas fogueiras da marginalidade, ou como os que recentemente celebraram até mesmo a morte de uma criança, inclusive, somente pelo fato de que era um neto do Lula, ou como debocharam da morte de sua ex-esposa), convém também lembrar que estamos em 2019, não em outros períodos da História em que determinadas barbaridades eram vistas com normalidade por muitos porque faziam parte de uma realidade obscura. há tantas pessoas que falam sobre renovação e, no entanto, muitas dessas são pessoas que, na verdade, querem é conservação: dos seus privilégios, antes de tudo, mas também da ignorância, pessoas que, com incapacidade (ou falta de vontade) de discernimento crítico, são guiadas apenas pelo senso comum (esse de perspectivas lineares, delimitado, que não confronta e apenas concorda e que ao longo da história fez com que durante muito tempo as pessoas acreditassem que a Terra fosse plana, por exemplo, algo que, por mais absurdo que pareça, algumas pessoas ainda acreditam que possa ser real, inclusive Olavo de Carvalho, o "guru" intelectual de Bolsonaro e de muitos de seus eleitores, que já declarou que "não se aprofundou no assunto", mas que não pode refutar a ideia de que a Terra não é redonda). vida que segue - para os que não permitem que seus pensamentos sejam cristalizados pelo tempo e para os ignorantes por opção.
12 de agosto de 2019
¿qué he sacado con quererte?
("Contra la guerra", tela bordada, 1962 - Violeta Parra)
com nome de uma cor e de uma flor, a compositora, cantora e artista plástica chilena Violeta Parra (1917 - 1967) foi, é, um ícone da cultura latino-americana. compositora de pérolas musicais como Gracias a la Vida (interpretada por cantoras como Elis Regina, Joan Baez e Mercedes Sosa, que gravou, em 1971, um álbum somente com composições de Violeta intitulado Homenaje a Violeta Parra) e Volver a los 17 (mais conhecida no Brasil também pelo dueto de Mercedes Sosa com Milton Nascimento), também foi compiladora de músicas folclóricas. por seu talento multifacetado, pelas canções que uniam o protesto (que se transformaram em hinos à liberdade) e o mais genuíno lirismo, Violeta é uma das artistas que mais admiro (inclusive a imagem de fundo deste blog é uma tela bordada por Violeta chamada Contra la guerra, de 1962). dentre tantos vídeos que eu poderia compartilhar de diversos artistas interpretando músicas de Violeta Parra ou dela própria, deixo aqui uma gravação arrebatadora da música ¿Qué he sacado con quererte? (que tenho visto e ouvido muito) interpretada pela mexicana Natalia Lafourcade, cantora da nova geração da música latino-americana:
¿Qué he sacado con la luna, ay, ay, ay,
que los dos miramos juntos? ¡Ay, ay, ay!
¿Qué he sacado
con los nombres, ay, ay, ay,
con los nombres, ay, ay, ay,
estampados en el muro? ¡Ay, ay, ay!
Como cambia el calendario, ay, ay, ay,
cambia todo en este mundo. ¡ay, ay, ay!
¿Qué he sacado con el lirio, ay, ay, ay,
que plantamos en el patio? ¡Ay, ay, ay!
No era uno el que plantaba, ay, ay, ay,
eran dos enamorados. ¡Ay, ay, ay!
Hortelano, tu plantío con el tiempo
no ha cambiado. ¡Ay, ay, ay!
¿Qué he sacado
con la sombra, ay, ay, ay,
con la sombra, ay, ay, ay,
del aromo por testigo? ¡Ay, ay, ay!
y los cuatro pies marcados, ay, ay, ay,
en la orilla del camino. ¡Ay, ay, ay!
¿Qué he sacado con quererte, ay, ay, ay,
clavelito florecido? ¡Ay, ay, ay!
Aquí está la misma luna, ay, ay, ay,
y en el patio el blanco lirio, ay, ay, ay,
los dos nombres en el muro, ay, ay, ay,
y tu rastro en el camino, ay, ay, ay,
pero tú, palomo ingrato, ay, ay, ay,
ya no arrullas en mi nido, ay, ay, ay,
¡Ay, ay, ay, ay, ay!
Letra: Violeta Parra
Voz: Natalia Lafourcade
(En manos de Los Macorinos)
26 de julho de 2019
criação
sobre quando foi concebido
o que não mais se acha
ainda restam verdades
que nem o tempo traz
- e leva para não contar...
das retinas que espreitaram
os tetos das cidades
e os rastros das pegadas
desfeitas
sobre estradas
e outros lugares
antes feitos de água,
rios e mares,
dos fósseis
jamais encontrados
no Deserto do Saara,
do instante no Egito
em que o vento beijou
pela primeira vez
uma pirâmide sobre o pico,
dos ancestrais
da África Atlântica,
dos quinhentos anos
para trás
para toda gente
que não viu
o que existiu antes
nem mais para frente,
do que esteve livre
de morar em um livro
que antes de virar História,
muito antes já estava vivo,
do "descobrimento" do Brasil,
da primeira pincelada
em uma tela,
de uma imagem
saída da cabeça
materializando
o que existia dentro dela,
dos segredos dos papéis
que embrulharam peixes
em algum ponto do Norte
ou do Sul da América do Sul
tingindo escamas como aquarela,
até de quando foram dados
nomes às coisas,
quando veio a lume
- em todas as línguas -
a palavra: criação.
23 de maio de 2019
Torres por mim
a cidade de Torres comemorou 141 anos de emancipação política administrativa no dia 21 de maio. esse lindo lugar em que eu nasci, que fica no litoral norte do Rio Grande do Sul e faz fronteira com o estado de Santa Catarina (com o Rio Mampituba dividindo os dois estados), é conhecido por suas praias, a ilha dos Lobos (uma pequena ilha em frente à cidade e que abriga lobos-marinhos e leões-marinhos em determinadas épocas do ano), seus morros (os paredões) e seu Festival de Balonismo, período do ano em que, além do verão, a cidade costuma receber muitos turistas. embora seja uma cidade pacífica, minha relação com ela nem sempre foi pacífica, houve muitos momentos em que tive a sensação de não caber nela, não me encaixar muito bem dentro da cidade. fui embora por volta dos 18 anos de idade e, desde então, morei em alguns outros lugares e foi nesses outros lugares que comecei a ter uma nova percepção (ainda bastante crítica, sempre, mas muito mais afável) sobre a cidade em que nasci e fui criado. com tudo que nela falta e sobra (como há sempre algo que falta e algo que sobra em qualquer cidade do mundo), eu amo Torres.
fotografias de minha autoria (de diferentes momentos pela cidade), exceto as duas últimas, que foram retiradas de um site de Torres (Viva Torres):
fotografias de minha autoria (de diferentes momentos pela cidade), exceto as duas últimas, que foram retiradas de um site de Torres (Viva Torres):
19 de abril de 2019
animalium
ainda que qualquer bicho
seja melhor
do que qualquer pessoa,
todo ser humano -
o único animal
que é também
desumano -,
é um pouco rã,
coruja, lagarto...
transmuta-se
em diferentes cores
conforme as suas
circunstâncias:
às vezes se camufla
de imaculado, virtuoso
para no instante seguinte
ser torpe, ardiloso.
vivemos em um jogo
tartufo de interesses
ao paladar
de nossas próprias
conveniências,
por melhores que sejam
nossos intentos,
propósitos,
todos somos,
enfim, como escreveu
Eduardo Galeano,
o que fazemos
para transformar
o que somos.
seja melhor
do que qualquer pessoa,
todo ser humano -
o único animal
que é também
desumano -,
é um pouco rã,
coruja, lagarto...
transmuta-se
em diferentes cores
conforme as suas
circunstâncias:
às vezes se camufla
de imaculado, virtuoso
para no instante seguinte
ser torpe, ardiloso.
vivemos em um jogo
tartufo de interesses
ao paladar
de nossas próprias
conveniências,
por melhores que sejam
nossos intentos,
propósitos,
todos somos,
enfim, como escreveu
Eduardo Galeano,
o que fazemos
para transformar
o que somos.
2 de abril de 2019
traduzir-se
Uma parte de mim
é todo mundo;
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa e pondera;
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta;
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente;
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem;
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
(poema de Ferreira Gullar
na voz de Adriana Calcanhotto)
é todo mundo;
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa e pondera;
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta;
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente;
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem;
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
(poema de Ferreira Gullar
na voz de Adriana Calcanhotto)
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