7 de setembro de 2018

vermelho


de repente invento
um jeito de te olhar
como quem não quer nada
querendo tudo
só para ver se venta
pode ser também
que eu te arranque
os olhos grandes da cara
e os coloque no lugar dos meus
para que com eles
eu te olhe sob o teu olhar
numa noite morna como essa
abafada e sem razão
quem disse que era preciso?
se desde sempre entre nós
não houve lógica
que o que sentimos não era divisão
entre braços intrusos
mãos que escorregam sempre bobas
à procura de um canto pelo corpo
olhamos
porque ainda são vermelhos os olhares
e o desejo: boca que tu pintas
só para veres manchar o cigarro.


(imagem: Charlotte Gainsbourg por Jean-Baptiste Mondino)

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